Por Aline Franca
Afinal, existe ou não existe?
Recebemos essa pergunta do Robson, que é bibliotecário e nos acompanha pelas redes sociais:
“Existem livros de literatura indígena para jovens, tipo romance, ficção, essas coisas? Tô tentando introduzir esse material em minha escola, mas só temos adolescentes e jovens adultos aqui”.
A Lei 11.645, de 2008, que trata sobre a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena no ensino fundamental e médio estimulou um número significativo de publicações de autoria indígena. Esse estímulo trouxe ao mercado editorial e, consequentemente, às mãos dos leitores, livros indígenas dos mais diferentes estilos e direcionados para públicos leitores diferentes, mas um segmento ganhou atenção especial: a literatura infantil.
Pela riqueza de suas narrativas, os contos e histórias indígenas convidam também os ilustradores para que as formas e cores de seus desenhos e representações visuais criem um diálogo paralelo, onde texto e imagem se complementam. Além disso, há uma intenção estratégica: permitir aos pequenos o conhecimento sobre os povos indígenas facilita nossa caminhada rumo a uma sociedade mais consciente e menos preconceituosa. São os povos originários falando diretamente com aqueles que construirão sua visão de mundo mais distante dos estereótipos e mais próxima das relações de respeito com a diversidade sociocultural, característica tão marcante em nosso país.
Tá, mas e os jovens? Onde ficam nessa história?
Vamos pensar juntos sobre isso. A diversidade dos livros indígenas, hoje, no Brasil, é considerável. Não apenas pela variedade de estilos literários – há muito mais do que histórias tradicionais – mas também pela presença de textos históricos, acadêmicos e informativos. Esse é o primeiro ponto. O segundo é: quantas vezes você leu um livro “supostamente infantil” e foi tocado profundamente, fazendo-o refletir sobre a sua vida, a sociedade e tantas outras “questões não infantis”? Pois é. Isso acontece porque as histórias têm o poder de dialogar com a nossa perspectiva de mundo.
Dessa forma, podemos considerar que em alguns casos a divisão etária dos livros pode estar mais relacionada a uma segmentação de mercado do que, de fato, ao direcionamento a um público leitor. Assumindo essa perspectiva, a gente passa a encarar o conteúdo dos livros de forma diferente. Obviamente, os livros direcionados para o público infantil normalmente têm algumas características em comum: letras grandes, muito colorido, são fisicamente maiores, mais amplos. Mas devemos sempre considerar que o importante é o conteúdo. É encarar o livro pensando: essa questão dialoga comigo ou com o meu leitor? Há questões que podem estimulá-lo? Ele (o leitor) irá se divertir com essa narrativa?
Vamos falar de um exemplo, o livro “Taynôh: o menino que tinha cem anos”, de Aline Rochedo Pachamama. Esteticamente, com um olhar apressado, o livro poderia ser considerado infantil e/ou infanto-juvenil. No entanto, a história narrada por uma árvore da floresta em que Taynôh vivia, nos fala da relação de Taynôh (que é a nossa criança interior) em equilíbrio com os seus sentimentos e emoções e a ruptura causada pela sua distração ao permitir-se seduzir pelas ilusões do progresso e da tecnologia.
Compreendendo que a adequação dos livros ao público são uma questão de perspectiva, de todo modo, há sim autores que escreveram pensando nos jovens leitores. Na sequência há uma lista de livros que recomendamos. Para saber mais sobre cada um deles, basta clicar no link:
A caveira-rolante, a mulher lesma e outras histórias indígenas de assustar – Daniel Munduruku
Antologia de contos indígenas de ensinamento: tempo de histórias – Daniel Munduruku e Heloisa Prieto
A primeira estrela que vejo é a estrela do meu desejo – Daniel Munduruku
Ay Kakyri Tama: eu moro na cidade – Márcia Kambeba
Coração na aldeia, pés no mundo – Auritha Tabajara
Nós: uma antologia de literatura indígena – organizado por Maurício Negro
O cão e o curumim – Cristino Wapichana
O formigueiro de Myrakãwéra – Yaguarê Yamã
O Karaíba: uma história do pré-Brasil – Daniel Munduruku
O mistério da estrela Vésper – Daniel Munduruku
O olho da águia – Daniel Munduruku
O sinal do Pajé – Daniel Munduruku
Outras tantas histórias indígenas de origem das coisas e do universo – Daniel Munduruku
Taynôh: o menino que tinha cem anos – Aline Rochedo Pachamama
Um estranho sonho de futuro – Daniel Munduruku
Vozes ancestrais: dez contos indígenas – Daniel Munduruku
Wahtirã: a lagoa dos mortos – Jaime Diakara e Daniel Munduruku
Para jovens adultos:
Ideias para adiar o fim do mundo – Ailton Krenak
Canumã, a travessia: um romance munduruku – Ytanajé Coelho Cardoso
E você, tem mais alguma sugestão? Compartilhe conosco!
Um abraço e até a próxima leitura!